13 de maio de 2009

Estrutura da Informação Radiofônica: uma osmose (des)necessária

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 O livro Estrutura da Informação Radiofônica proporciona uma leitura leve e de fácil compreensão. Serve tanto para os estudantes de jornalismo, como também para os interessados em conhecer os mecanismos da linguagem radiofônica. O autor da obra é Emílio Prado, radialista, jornalista e professor da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha. Ao escrever Estrutura da Informação Radiofônica, ele pretendeu diminuir as lacunas deixadas pelos acadêmicos no que diz respeito a reflexão no processo de construção da estrutura da informação via rádio. E avisa que a obra deve servir para os estudantes de jornalismo como ferramenta norteadora na construção e aplicação das técnicas radiofônicas. 

O prefácio escrito pelo jornalista brasileiro, Heródoto Barbeiro, faz uma análise da importância do rádio na sociedade, cujo papel como meio de informação deve ser pautado com credibilidade e à frente dos jornais impressos. A obra além do prefácio é constituída por oito capítulos antecipados por uma introdução.

No capítulo inicial Emilio Prado apresenta as principais características na difusão radiofônica: a instantaneidade, simultaneidade, rapidez e atualidade na comunicação. O canal noticioso, porém pouco se vale do potencial que possui. 

Essencialmente bidirecional, a estrutura de atuação radiofônica baseia-se no esquema tradicional de comunicação, ou seja, emissor - meio - receptor. O uso desse esquema unidirecional, vertical e hierárquico impede uma real comunicação, transformando o meio em canal de “distribuição de mensagem-mercadoria” (PRADO, 1985, p. 18). Para o autor isso despersonaliza a audiência, ilhando cada ouvinte. “A radiodifusão poderia ser o maior meio de comunicação já imaginado na vida pública [...] se conseguisse que os ouvintes não apenas escutassem, mas também falassem [...] (BRECHT, apud PRADO, 1986, p 17). 

É necessário que o jornalista mude sua mentalidade informativa devido à estrutura da informação do rádio ser diferente da plataforma impressa. Tal mudança afeta três aspectos importantes: a pontuação, a estrutura gramatical e a linguagem. 

Emilio Prado afirma que o rádio possui linguagem própria. Aconselha que redação da notícia e sua locução devam ser feitas pela mesma pessoa, proporcionando, por consequência, autenticidade e naturalidade na expressão.

A estrutura gramatical precisa ser coordenada, composta por sujeito, verbo e complemento. A frase tende a ser curta, possuindo em média dezoito palavras, e o estilo assemelhar-se-á ao coloquial. A pontuação empregada no texto radiofônico, por sua vez, é apenas a vírgula e o ponto. Os adjetivos são desnecessários e os advérbios admissíveis são os de tempo e de lugar. Os pronomes devem ser evitados, por exigirem um esforço complementar na compreensão da notícia. O autor recomenda ainda a utilização do verbo no presente do indicativo e em voz ativa e o arredondamento dos números quando usados.

A locução noticiosa possui três variantes fundamentais: a vocalização que deve ser clara para facilitar a compreensão do texto, a entonação que precisa igualar-se à expressão oral, o ritmo cuja tendência é ser variável e a atitude que dependerá do tema ou do tipo de programa transmitido.

Emilio Prado esclarece a importância da estética visual, dos diversos recursos redacionais, da necessária ambigüidade nos textos de rádio, e da estética do erro, repetições de termos e erros premeditados que tem por finalidade gerar uma cumplicidade amigável no receptor, humanizando, portanto a comunicação. O autor sugere também alguns exercícios com a finalidade de aprimorar a locução e a respiração.

Numa constante busca pela fixação dos termos ali apresentados o autor da obra formula um conceito de noticia radiofônico em paralelo ao conceito de notícia impressa. Apresenta alguns tipos de notícia classificados em: notícia estrita, notícia de citações, e notícia com entrevista.A entrevista radiofônica, por sua vez, é sugerida como uma das fórmulas mais ágeis para dar e se conhecer uma informação, ou para o aprofundamento de um tema; a modalidade se desdobra em: entrevista direta, diferida, entrevista de caráter, noticiosa, de informação estrita (a mais utilizada por sua brevidade), entrevista de informação em profundidade, declarações e falsa entrevista. O êxito da entrevista para o autor dependa tanto da documentação como do conhecimento do tema pelo entrevistador. Alguns vícios na entrevista devem ser evitados tais como o apresentador monopolizar o microfone, fazer perguntas longas, perder tempo com declarações óbvias, etc.

Emílio Prado assume que a reportagem é o gênero mais rico entre os usados no rádio, porém lamenta sua pouca utilização. Seu desdobramento é feito em reportagem simultânea, ao vivo e improvisada, e em reportagem diferida, gravada. Fala também da importância do debate no rádio “por ser a forma mais viva e polêmica” e seus tipos. O autor rapidamente aborda a crônica como um gênero informativo de caráter ilustrador e formador de opinião. E por fim, comenta, superficialmente, sobre o caráter ilustrativo e fragmentário da pesquisa na transmissão radiofônica, identificando-a como elemento dinamizador dos gêneros de referência.

O articulista usa uma linguagem coloquial ao desenvolver suas deduções e recomendações ao longo da obra. Maciçamente, apresenta as características da estrutura radiofônica de acordo com a teoria de autores como Bertolt Brecht (1898-1956) em Teoria do Rádio, Pedro Orive em Estrutura de La informacion: comunicacion y sociedad democrática (1978), Gadda em Norme per La redaziones di um texto radiofônico (1973), entre outros. Assim como salienta diversas vezes a importância da ambigüidade na construção da linguagem na radiodifusão.

Intuir à que conclusão o autor chegou ao termino de sua obra é admitir, por consequência, a falta de uma conclusão. Talvez a conclusão evasiva presente ao fim da leitura de sua obra tenha sido usada nos seus primeiros capítulos, cheios de repetições, ou a obra tenha sido cometida por um mal que atinge a maioria da obras estrangeiras: a limitação de páginas a serem traduzidas. O autor fez uso também das análises de programas de rádio da cidade de Barcelona, na Espanha, no ano de 1981, para apontar o que se deve evitar na construção e emissão das noticias, assim como para ilustrar a estrutura mais correta.

Convenhamos, Emílio Prado cumpre o seu papel já antecipado na introdução de sua obra: o de construir um instrumento de consulta para os estudantes de jornalismo na tentativa de orientar seus primeiros passos, o que nos permite, por dedução, entender a inexistência de se construir algo alem da superfície.

Quem tiver interesse em adquirir o livro, acesse o link do estante virtual. Boa leitura.

1 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns. Talento você tem e de sobra, so falta divulga-lo com mais intensidade. Tenha certeza de que estarei na arquibancada da vida torcendo pelo seu sucesso, bjs...
Ass: Wlaneide Junior.