11 de junho de 2009

As Mulheres do Parque

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A desigualdade social e econômica presente nas áreas periféricas da cidade de Salvador levanta uma questão preocupante: qual será o destino das mulheres chefes de família e solteiras, estigmatizadas pelo preconceito racial e econômico e dos seus filhos?

A desintegrada estrutura familiar são um dos fatores para a condição social de risco pelos quais mulheres são submetidas diariamente. A violência é sentida de diversas formas: física quando a agressão parte do conjuge ou do pai; profissional quando são submetidas a trabalhos não valorizados economicamente; e social quando o município se isenta em cumprir as obrigações sociais pelas quais é responsável.

Apesar das dificuldades apontadas, algumas mulheres moradoras dos arredores do parque São Bartolomeu, subúrbio ferroviário de Salvador, mantém uma meta de vida: fugir dos estigmas e esteriótipos reforçados pela mídia e engessados pelo inconsciente coletivo da própria comunidade, como também garantir seu espaço social de forma digna e cidadã.

A brincadeira

- Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, empurra Collor que ele cai!

Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, empurra Collor que ele cai!

Collor vai ganhar uma passagem pra sair desse lugar

Não é de carro, nem de trem, nem de avião
é com algemas no camburão.
Eta Collor ladrão!
Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, empurra Collor que ele cai!

Era 1992, o cenário político no Brasil fervilhava de escândalos. A mídia não se cansava de apontar as corrupções que assolavam toda a sociedade. Muitas vezes, as verbas que deveriam ser destinadas a saúde, educação, infra-estrutura, principalmente para os bairros periféricos, haviam sido desviadas.

Fernando Affonso Collor de Mello, o então presidente do Brasil, vivia seus últimos dias de presidenciável. Diante das denúncias de corrupção, Collor não teve outra alternativa, renunciou, numa vã tentativa de evitar o impeachment- processo de cassação de mandato do chefe do Poder Executivo, em países cujo o governo não seja parlamentar, em qualquer esfera, seja ela federal, estadual ou provincial, municipal ou condado- que tiraria seu direito de exercer qualquer cargo político no Brasil.

Não foram só nas ruas de Brasília que se escutou as músicas e trocadilhos que marcaram o processo de impeachment pelo qual Fernando Collor de Mello sofreu.

No Parque São Bartolomeu, localizado no subúrbio ferroviário de Salvador, não foi diferente. Crianças e adolescentes se divertiam, de caras pintadas de verde e amarelo e “mamãe sacode” nas mãos, sem contudo, entenderem a gravidade da situação pela qual o país passava.

A sensação de segurança que outrora fora sentida através de muitas lutas pela conquista da liberdade de ir e vir, de praticar suas crenças, sem repressão, já não existia. Apesar do seu passado histórico, o Parque, que já serviu de palco dessas brincadeiras, as quais ainda eram uma das únicas atividades inocentes que possuia, com piqueniques, banhos de cachoeira, não é mais o que foi. As mulheres, moradoras dos arredores, perderam o único espaço de lazer que poderiam oferecer a seus filhos: lazer bom e barato. As crianças, então eram obrigadas a brincarem em acanhados becos, próximos de suas casas. A preocupação de que algo acontecesse faziam com que suas mães as proibissem de ir além da pequena ladeira de barro que limitava o espaço para brincar.

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