12 de dezembro de 2009

Distúrbio mental pode tingir mais de 176 mi de pessoas no mundo

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A correria da 'vida moderna' tem abalado a saúde mental dos indivíduos. É comum o parecer médico apontar distúrbios de comportamento e até mesmo mentais numa sociedade cada vez mais acelerada e fóbica. O estresse é considerado como um dos vilões que afentam a qualidade de vida das pessoas e a depressão é apenas um indício de que algo não está bem.

De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, estima-se que até 2010 o número de pessoas que sofrerão com algum tipo de distúrbio mental chegue a 176 milhões. Só no Brasil, em 2008, quase 13 mil pessoas foram afastadas de suas funções devido a algum transtorno mental ou de comportamento. Nos casos mais graves, consequentemente, é preciso tratamento psicossocial, além da prescrição de medicamentos que contribuam para o restabelecimento do indivíduo.

A Lei Paulo Delgado nº. 10.216, aos poucos vem, promovendo um novo viés ao tratamento dos distúrbios mentais. Tentativa de minimizar os estigmas de séculos de exclusão proporcionada pelos asilos psiquiátricos.

No Brasil, a reforma na atenção psiquiátrica, exigida desde a década de 70, e celebrada apenas a partir de 2001, traça os primeiros passos rumo à recuperação socialmente correta de quem sofre com o problema. Essa recuperação, porém, anda a passos lentos, principalmente quando o doente é pobre e necessita de tratamento gratuito.

O caso de Pedro Vicente, que passou a ser conhecido após fuga cinematográfica registrada pelas câmeras dos jornais, é um exemplo de como ainda é difícil tratar quem foi diagnosticado possuidor de algum transtorno mental.

Abandonado pela mãe com 1 ano, Pedro foi criado pelo pai. Aos 9 anos, começou com maconha, comprada em frente ao Colégio Estadual Luis Vianna Filho, em Brotas, onde estudava. Aos 12, ganhou do traficante uma arma para tomar conta de uma boca-de-fumo. Mas a esquizofrenia só foi detectada aos 14, quando ele não concluiu a 5ª série (CORREIO. Crack destrói família do 'Homem-Aranha' fotografado pelo CORREIO, 2009).

Raimundo dos Santos, 54 anos, tem buscado internar o filho em diversos hospitais psiquiátricos de Salvador. “Estive no Sanatório São Paulo, o Mário Leal, o Juliano Moreira. Se alguém aceita ele, não estava daquele jeito no jornal”, lamentou .


O Centro de Atenção Psicossocial Aristides Novis (CAPS), aceitou tratá-lo, porém Pedro, ao começar o tratamento, logo desistiu. Para o pai, o ideal seria tirar o filho do ambiente onde haja facilidade de conseguir drogas. Opinião refletida a do psiquiatra Esdras Cabus. “Quando existe comorbidade com outra doença psiquiátrica, a situação ainda é mais dramática”, pontuou.

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são serviços de saúde mental abertos e comunitários do Sistema Único de Saúde – SUS, destinados a prestar atenção diária a pessoas com transtornos mentais severos e persistentes. Seu objetivo é oferecer atendimento à população de sua área de abrangência, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.

Discípulo de Philippe Pinel, o psiquiatra Frances Jean-Étienne Dominique Esquirol (1772-1840), reconhecido por ter diferenciado a demência (doença mental) e amência (deficiência mental), justificou o isolamento dos doentes mentais como meios de garantir a segurança pessoal deles e de seus familiares.

A existência de posição favorável às internações para Michel Foucault (2007, p. 109) se correlaciona às exigências da ordem social contra a desordem dos loucos; mas, há quem brigue para que os Centros de Atenção Psicossocial tomem o lugar dos antigos manicômios.

No dia 30 de setembro de 2009, cerca de duas mil pessoas se reuniram em frente ao Museu da República, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. A esse movimento foi dado o nome de Marcha Antimanicomial, evento promovido pela Rede Nacional de Internúcleos da Luta Antimanicomial, com o apoio do Conselho Federal de Psicologia que, além de defender o Sistema Único de Saúde, luta pelo cumprimento da lei da reforma psiquiátrica, a realização da 4ª Conferência Nacional de Saúde Mental e a implantação do programa de Volta Para Casa.

Fala-se muito da importância que a reforma tem no trato psiquiátrico e o quanto é necessário recuperar a dignidade de quem sofre com o problema. Pouco se fala, porém, é que o problema mais grave hoje é a saúde social.

Enquanto nossa sociedade não tratar devidamente tais conflitos, muitos Pedros verão o futuro de uma vida digna escoar pelo ralo da burocracia.

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