22 de junho de 2009

Fotografias de uma história radiofônica: olhares de Gisela Ortriwano

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Gisela Swetlana Ortriwano (1948 - 2003) formou-se em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e em Jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes, ambas da Universidade de São Paulo. Além das atividades didáticas nas áreas de Jornalismo Radiofônico e Televisionado na Escola de Comunicações e Artes da USP e no Instituto Metodista de Ensino Superior, foi chefe do Setor de Pesquisa do Departamento de Jornalismo da Fundação Padre Anchieta – Rádio e Televisão Cultura de São Paulo, cargo anteriormente ocupado na TV Globo / SP, onde implantou o Setor de Pesquisa. Ao desenvolver as reflexões contidas em A informação no Rádio: os grupos de poder na determinação dos conteúdos, parte integrante de sua dissertação de mestrado, defendida em 1982, levantou cerca de 60 anos de história da Radiodifusão no Brasil. Sua importância, quais ideologias motivaram sua implantação, como esta se deu e por quais caminhos percorreu. Sua análise é interessante, na medida em que aponta e convida o leitor a reflexão do que poderia ter sido a radiodifusão no Brasil e no que se transformou.

Na retrospectiva da implantação do Rádio no Brasil, Ortriwano disseca sua gênese cultural e educativa, idealizada nos anos 20 por Roquette Pinto e Henry Morize, mas obstruída tanto pelo custo econômico de seus aparelhos receptores quanto pela programação, direcionada não para as grandes massas, na sua maioria analfabeta, mas para uma elite.

A necessidade de transformar comercial a transmissão radiofônica logo se fez

imperativo. O que antes devia ser erudito, educativo e cultural, tornou-se popular e comercial. Nesse contexto, as atenções dos empresários e chefes partidários se voltaram para as potencialidades do Rádio, não apenas como um canal mercantilista mais também como um mecanismo de controle do corpo social, defende a autora da obra.

Com o surgimento da televisão, a era de ouro do Rádio termina. As grandes produções dão lugar
à música e aos programas de notícia. É diante desse contexto que surge os grandes nomes do rádiojornalismo no Brasil, tais como o “Repórter Esso”, o “Grande Jornal Falado Tupi” e o “Matutino Tupi” entre outros. Junto a esse processo, as inúmeras emissoras (AM e FM) existentes sentem a necessidade de especializarem suas programações, o que fez surgir duas tendências: o Rádio de mobilização em contrapartida ao Rádio de relaxamento, de baixa estimulação.

Ortriwano também apresenta a situação da radiodifusão no Brasil, discute as leis de concessões brasileiras cujo círculo vicioso deixa à margem as grandes massas que se veem obrigadas a buscarem na clandestinidade vias de se fazerem ouvir.

A autora afirma ainda que “o Brasil ocupa o segundo lugar no quadro mundial de emissoras instaladas, superado apenas pelos Estados Unidos” (1985, p.37). O sistema de exploração da radiodifusão que o Brasil se enquadra é o sistema pluralista, existindo também, por outro lado, o sistema de monopólio ou autoritário, sendo que o papel social do sistema de exploração da radiodifusão se diferencia tanto quanto às funções (coleta de informações; expressão de opinião; função econômica e de organização social, entretenimento e distração, psicoterápica, ideológica, etc.) como quanto às doutrinas (demagógica dos publicitários; culturalista; dogmática e sóciodinâmica).

Agora, o Rádio é definido, segundo a autora, como objeto e, tem sua participação na sociedade delimitada tanto quanto ao poder público como quanto ao poder publicitário. São a esses poderes que o Rádio precisa provar que é eficiente em alcançar seus objetivos atuais: “o de atingir o ouvinte, o consumidor dos produtos e serviços anunciados” (1985, p.57). Portanto, são os poderes internos, econômicos e internacionais que definem qual conteúdo será disseminado pela radiodifusão.

A autora da obra utiliza os estudos de Faus para conceituar a mensagem radiofônica como mensagem possuidora de características específicas quanto à função do meio, dos componentes da mensagem, do ouvinte e do receptor. Já no tocante a estrutura, esta possui linguagem oral, de intensa penetração geográfica, possibilitando sua recepção em qualquer lugar, além de ter custo baixo em relação aos outros meios de comunicação. Sua mensagem estimula a participação do ouvinte por meio “de um diálogo mental” (1985, p.80), cuja forma imediata e instantânea atinge o receptor a qualquer hora, sem que este ouvinte esteja necessariamente fechado entre quatro paredes e preso a quilômetros de fios.

Já no final de sua obra, após tecer algumas definições que ilustram o dia-a-dia nas redações de rádio, Ortriwano faz um alerta sobre os critérios utilizados nos enquadramentos da notícia, e arremata ao verbalizar Somavía que “a informação é uma função social” (1985, p.113) que nunca deveria estar ligada as ideologias do mercado capital.

Gisela Swetlana Ortriwano avalia de modo cuidadoso a fotografia histórica, política e social
cuja informação no Rádio atravessou desde a sua implantação até os anos 80. A autora se preocupa em narrar fatos históricos, em refletir situações, em questionar barreiras e apresentar dados que possam facilitar a compreensão do processo de desenvolvimento desse canal de informação que hoje se vê além do eletrônico. Agora, a informação radiofônica aventura-se no ambiente digital.

A informação no Rádio: os grupos de poder na determinação dos conteúdos, obra da já falecida, Gisela Swetlana Ortriwano, é de grande importância nas praças acadêmicas, pois trata com propriedade, segurança e altíssimo grau de síntese, o universo que se desenvolveu a informação no Rádio. Leitura agradável, de vocabulário sóbrio e de fácil assimilação, recomendada a todos os estudantes de Jornalismo, profissionais da área e curiosos sobre a história do Rádio no Brasil.

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