A novela do mês em letras pintadas de vermelho utópico
Como telespectadores o país se vê preso a TV para acompanhar as cenas dos próximos capítulos da novela do mês: O Caso Isabella, cujo inquérito já ultrapassa 30 dias, com 64 pessoas ouvidas. O processo conta com seis volumes e soma cerca de mil páginas. A polícia indiciou Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá por homicídio qualificado contra Isabella, 5, nascida numa típica família de classe média de São Paulo. Motivos: A polícia diz que foi por
motivo fútil, meio cruel, e que houve impossibilidade de defesa da vítima.
Não é preciso ir muito longe para encontrar casos que lembrem o da menina Isabella Nardoni, só que com um pequeno detalhe: as vítimas, pobres e invisíveis perante a sociedade, não causam mais tanta mobilização. As pessoas estão acostumadas aos requintes cruéis mostrados pela TV, e sensibilizam-se mais com as imagens ali mostradas do que com as próximas de casa.
O sangue que mancha a tela plana da TV parece mais vermelho, o choro sofrido, mais verdadeiro. Assim, o sangue que jorra todos os dias das veias do povo não é mais real que as da mídia apresentadas.
É o que se pode chamar de visão distorcida. A hipermetropia da qual passamos deve-nos alertar que algo de muito errado está acontecendo com a nossa sensibilidade. Vemos mas não enxergamos. Consumimos de tudo que nos dizem ser bom, light, trans, mas não interiorizamos se realmente o é, e até que ponto pode-se viver sem.
Lembro então daquele ditado popular que diz ser mais verde a grama do vizinho. Talvez por isso seja mais chocante admitir que um pai ou mãe fosse capaz de assassinar, sem aparente motivo, uma criança indefesa. Porém, quantas crianças indefesas nunca tiveram real chance de vida? Acho que mais estrelas do que possamos contar.
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