24 de fevereiro de 2009

Carnaval de Salvador deixa de fora criador da Axé music

1 comentários
O carnaval 2009 em Salvador deixou de fora Luiz Caldas, que nos Anos 80 foi considerado o criador do estilo musical Axé Music que hoje fomenta o enriquecimento de dezenas de empresários e artistas baianos tais como Ivete Sangalo e Claudia Leitte.

Músicas como Ajayô, Tiêta, Axé pra lua, com frases: não vendo, não troco e nem dou minha fé, qual é, embalaram a juventude da época para a qual brincar o carnaval era mais inocente que hoje.
A indústria do entretenimento ainda não tinha se dado conta do quão rentável poderia ser o Axé. Os trios elétricos ainda eram modestos em tecnologia e seus puxadores não recebiam um terço das cifras cujos atuais recebem.

Eu era criança, mas lembro que as pessoas dançavam ao som de Luiz Caldas sem medo da violência. Não que ela não existisse, porém, o que havia mesmo era mais inocência nas pessoas. A desigualdade social era menor. Ricos e pobre brincavam juntos, afinal, o bom do carnaval era a "pipoca". Hoje, o espaço para o brincalhão pipoca vem diminuindo. Quem não tiver no bolso entre R$250 a 800 reais é empurrado para os becos, cada vez menores, da avenida.

Em nota divulgada (22) no CORREIO24h*, jornal local, Luiz Caldas se diz "estupefato e perseguido" diante da posição tomada pelo secretário da Secult (Secretaria de Cultura do Estado) Márcio Meirelles, que impossibilitou a sua saída no atual carnaval. Em defeza, o secretário afirma que Luiz Caldas não chegou nem a inscrever o seu projeto, ação obrigatória para avaliação. E que foi convidado para fazer parte do trio temático "Anos 80", se negando a aceitar.

Em resposta Luiz Caldas escreveu manifeto contra o secretário na íntegra logo abaixo:

'Salvador, 22 de fevereiro de 2009.

Manifesto de Luiz Caldas contra Márcio Meirelles*

Senhores dirigentes, foliões baianos e de outras localidades.

Estou sendo perseguido pelo senhor Márcio Meirelles, secretário de Cultura do Estado, que de todas as formas tentou impedir a minha participação no Carnaval de Salvador. Será que o motivo foi o de eu não querer participar de um trio temático dos anos 80, algo que não acrescenta em nada a minha rica trajetória musical? Saiba senhor Márcio Meirelles que eu sou dos anos 80, orgulhosamente, e também sou da modernidade, sou do século XXI e estou lançando 130 canções inéditas de uma só vez. Isso já é notícia em todo o Brasil. É cultura, como o Carnaval é cultura, como é a Axé Music que inventei. Não posso viver preso ao passado.

O nosso governador Jaques Wagner e a primeira-dama Fátima Mendonça queriam a minha participação na festa, mas o senhor Márcio Meirelles, da anti-cultura, tem uma borracha maior do que a caneta do governador, e, por ser 'todo poderoso', apagou o meu projeto que era para tocar três dias no Carnaval de Salvador e para o folião pipoca. Vejam quem ele contratou, esquecendo propositalmente o projeto de um dos integrantes diretos desta festa.

Não gosto de me envolver em política de Estado, mas peço publicamente ao governador Jaques Wagner para analisar a conduta deste senhor Meirelles. Será que vale a pena deixar um mandatário cultural boicotar artistas que têm poder simbólico e que fazem parte desta festa carnavalesca para os foliões pipoca? É algo para se avaliar.

É isso foliões. Fiquei sem tocar dois dias em Salvador por conta do jogo sujo que está acontecendo na Cultura baiana.

É hora de dar um basta nisso e respeitar quem tem história e ainda faz história. A pasta da Cultura merece alguém melhor, ao menos alguém que respeite os artistas locais.Luiz Caldas, criador da Axé Music'

1 comentários:

Anônimo disse...

Sou fã do Pai do Axé e não pude apreciá-lo!
Eu gostaria de estar aqui para deixar uma mensagem bem legal e alegre para todos, mas aqui vai na verdade o desabafo de uma fã frustrada, decepcionada e sem acreditar que a Bahia não valoriza um dos seus mais importantes filhos: Luiz Caldas.
Luiz é história musical, não somente baiana, mas nacional e internacional também. Ele abriu as portas da Bahia para o mundo e é graças a ele que o Carnaval existe e tem essa potência. Ele É a música baiana, é o retrato de um movimento que tomou imensas proporções e que fará 25 anos. É um legado dele que ninguém jamais poderá tirar.
Não afirmo que ele é o dono disso tudo, mas afirmo com propriedade que sem ele talvez não tivéssemos um Carnaval de rua desse nível hoje.
Ver que existem milhares de trios, bandas, músicos de vários estilos e lugares me deixa animada e feliz. Apesar de achar que o Carnaval, em termos de música e baianidade está perdendo um pouco a essência do Axé, ainda assim acho a maior manifestção musical desse país. Mas o que me deixa infeliz é saber que o Rei, o Pai de tudo isso foi deixado de lado, não foi valorizado e acabou sendo vetado de mais um dia de Carnaval.
Eu vim de Miami sonhando em ver Luiz cantando, tocando e encantando. Depois de muitos anos sem vê-lo estava na sede, na fome de ouvir seu som cativante e sua energia positiva.
Luiz devria ter saído na Avenida Quinta e Sexta e não aconteceu. Quantos fãs, amigos, familiares e até mesmo imprensa não estavam por lá esperando por ele? Quanta gente não deve estar até agora sem entender o que aconteceu? Qual o motivo para o Pai de tudo isso ser deixado de lado. Não estou aqui falando em meu nome apenas, mas em nome de várias pessoas que conheço, que são fãs e que estão revoltadas com o rumo de certas coisas na Bahia.
Enquanto valorizamos quem vem de fora, quem não tem muitas vezes nada a ver com o Carnaval, deixamos de lado o Criador disso tudo, aquele que fez e ainda faz divinamente o que muitos apenas tentam fazer: música de qualidade.
Fica aqui o meu protesto, a minha dor e a minha esperança de que um dia esse quadro mude e Luiz possa brilhar sem ser ofuscado, brilhar do jeito que ele merece. Porque quem é Rei nunca perde a Majestade.
Salve Luiz, seus fãs te amam e você será eternamente o Pai de toda essa folia!